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Conheça Jasmine Infiniti

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DJ e produtora de Nova Iorque, Jasmine Infiniti lançou recentemente seu primeiro EP "SiS". Aprendeu a tocar e produzir dentro da cena queer e hoje usa sua voz e sua música pra se comunicar com o mundo sobre os problemas sociais das mulheres trans no mundo, em especial as mulheres negras. Com sua mistura de batidas de vogue, techno e R&B, Jasmine passou pelo Brasil e tivemos a oportunidade de conversar com ela:

Ei Jasmine, obrigado por aceitar fazer essa entrevista com a gente. Como você está e o que anda acontecendo na sua vida recentemente?Eu me sinto muito bem pela primeira vez em um bom tempo. Mas parece que minha alegria está sempre ameaçada, ou pelo atual governo dos EUA ou por conta das pessoas em geral. Me dá uma esperança mulheres trans estarem concorrendo a cargos do governo no Brasil. Eu continuo firme porque sei como é importante que eu continue dando esperança e inspire outras pessoas, ainda mais agora que comecei a entender o meu poder e quais os meus propósitos.

Como surgiu o seu interesse pela música? Você sempre quis ser uma produtora musical?Não foi sempre que eu me interessei por produção mas música sempre foi minha paixão. Eu costumava cantar e é possível que eu faça os dois no futuro mas por enquanto eu estou muito animada produzindo. Não foi sempre que quis ser DJ também, isso aconteceu depois de começar a New Worldwide Dysorder na Califórnia [festa que Infiniti é dona e residente], e foi tão natural. Eu não sei se eu ainda criei uma marca mas eu estou me divertindo muito tentando descobrir qual o meu som. Meu primeiro EP “SiS” é basicamente eu procurando o meu som e ao mesmo tempo expressando as diferentes emoções e experiências que é ser uma mulher trans negra. Minha música e minhas experiências de vida são uma coisa só.

Qual foi a maior conquista da sua carreira até agora?Acho que minhas maiores conquistas são todas as viagens que fiz e a notoriedade que consegui. Até no meu bairro em Nova Iorque eu fui reconhecida. As pessoas sabem que eu sou a Jasmine Infiniti. E também é incrível que eu consegui conhecer pessoas trans e queer do mundo inteiro. Quer dizer, acho que essa é a real conquista, fazer conexões e se reconectar a pessoas como eu.

Lembra qual foi o primeiro disco que você comprou?Quando pude comprar pela primeira vez eu escolhi dois discos, o Bedtime Stories da Madonna e trilha sonora The Blade. Eu tinha um álbum das Spice Girls em uma fita cassete e o único disco que eu tinha foi um que ganhei quando criança da série Fraggle Rock.

Qual foi o maior desafio na sua jornada como DJ e produtora?Como sempre, os homens [risos]. Homens são um desafio. Desde tentar me impedir a fazer o que eu preciso e quero, sexualizar a mim e minha filhas quando não queremos, não acreditando que eu sei tocar... As vezes minha visibilidade é um desafio por contras de traumas do passado, não me sentir confortável em público ou não querer ser vista. Ser atacada ou tirarem sarro de mim. Algumas vezes eu tenho que lidar com essas situações quando estou tentando entrar em uma festa para tocar. Pessoas sendo rudes e não acreditando que eu sou uma DJ. Acredito que deve ser difícil acreditar que uma mulher trans pode fazer isso, mesmo que existam várias fazendo. As pessoas têm tendência a me rejeitar e me atacar em festas. As vezes eu tenho que me lembrar que eu sou uma DJ reconhecida internacionalmente e que eu importo, mas é frustrante porque não é sempre a mim que eu devo convencer disso.

Você disse em uma entrevista para a Fader que seu novo EP "SiS" é um guia sobre a vida da mulher trans negra no seu país e no mundo. Conta mais pra gente sobre esse trabalho, qual foram as ideias por trás, o conceito e como foi o processo de produção?É sobre uma mulher trans de cor mas não especificamente negra. O termo "SiS" é uma expressão que usamos para nos referir umas às outras. Como eu disse, é uma extensão sobre o que eu sinto e o que vem acontecendo por um tempo. É obscuro, é triste, é raivoso. Com tantas mortes de pessoas trans pelo mundo todo, a expectativa de vida da mulher trans negra nos Estados Unidos é de 35 anos. Eu tenho 34 agora. Eu estou solteira e desiludida com os homens. Eu fui estuprada, eu trabalhei com prostituição, eu fui uma sem teto, e eu ainda sinto medo de alguma dessas coisas voltarem a acontecer a qualquer dia. Talvez quando eu passar dos 35 fique menos assustador. É isso que o "SiS" fala, honestamente. É sobre sobrevivência, as lutas que eu e minhas irmãs passamos para sobreviver.

Tem algum artista brasileira que você anda ouvindo recentemente?A Badsista é uma das minhas favoritas do Brasil e a razão de eu estar aqui. Mas eu nunca sei direito da onde os artistas são ou nada sobre eles. Eu costumava prestar mais atenção mas agora eu apenas escuto o que eu acho bom e não presto muita atenção em quem está fazendo.